Devolvo à natureza um sorriso tímido
A cada manhã que acordo, mesmo que barulhenta
<< Às vezes, preferivelmente barulhenta>>
Por sentir-me parte de algo maior,
Por respirar tão fundo, calmamente enchendo o corpo de oxigênio,
E desprender-me, etérea, das preocupações mundanas.
Percebo a vida como troca,
Em que nem sempre sabemos quando receberemos nossa parte.
Sigo doando-me inteira, sem pensar na medida das coisas que entrego,
E recebo o silêncio com a calma resoluta de quem respira fundo.
A fluidez de meu pensamento não pode fazer-me mal,
A partir dela desfaço-me em tudo, reúno-me em nada,
Choco-me às ondas,
Balanço na alta das marés,
Corro com as correntes,
Esvazio-me na lua cheia, só pra preencher-me quando ela é nova,
E tudo em mim é novo, impossivelmente novo,
Mas concreto e real, como eu sou,
E basta-me sê-la.
Às vezes as nuvens fecham-se e o dia me oprime,
Mas toda tempestade lava a alma.
Como a água, minha liberdade é adaptação,
E rendo ao mundo o que há de melhor em minhas formas.
Se a chuva cai forte, penso na força da terra,
que aguenta, serena, toda carga sobre ela jogada.
Se a chuva cai mansa, a terra renova-se em vida
E os ares sopram pro novo,
Eu apenas respiro fundo
E durmo tranquila sob a chuva que bate nas telhas.
Se o dia amanhece cinzento, o sol tem todas as cores
E eu posso tê-las também,
Tudo que preciso segue comigo.
Guardo ao peito a calma que emprego nos versos que fico,
Nem penso ainda nos versos que vêm.
Beatriz Cruz de Sá
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