Chove torrencialmente no primeiro dia do verão. A ironia é o útero de Deus. Miro o plexo solar e vejo aquarela, tom de rosa que brilha quando a luz se desfaz às 17h17min e nos revela que o contar das horas é uma ilusão, que o real é feito da substância que gera os sonhos.
O menino está agora sem as tiras do chinelo, esse que se perdeu nas águas da cidade, na esquina do poste que se apagou.
É preciso respirar, tal como abrir a janela e constatar a beleza dos raios.
O mundo é um livro aberto e o bater dos cílios é o virar das páginas.
Eis aqui um sorriso,
beijo,
sparkling cósmico dourado de micropartículas que sobem,
que sobem!
Fotogramas do poema que explode como o corpo do menino encontrado,
essa dor ainda sem nome.
Máquina revolucionária: a descoberta de um novo afeto, o ponto até então desconhecido.
A matemática dos dias,
intensidade das vivências imensuráveis
as exceções dos corações sem réguas.
Você chegará,
mas o que farei com essa alegria?
Vandia Leal
Instagram: @vanrleal
Texto retirado do livro In-quietudes de Vandia Leal. Padê Editorial - Cole-sã escrevivências, n. 13.
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