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Grupo de Risco



Último ato de Fausto, de Goethe. Meia-noite, as ‘quatro mulheres grisalhas’ que atormentam a velhice surgem: a Penúria e a Insolvência, a Privação e a irmã das três: a Morte.

Fausto:

- “Cruéis fantasmas, eis como tratais

As míseras humanas criaturas”

De modo algum ele se sentia velho, muito pelo contrário, e todos diziam que não estava, espelho talvez turvo e turva vista. Entretanto, súbita e arbitrariamente o atiraram à velhice e o agruparam como risco, que por vezes ele sente como dele, porém, o aterroriza saber-se visto como se o risco fosse ele.

Ele sabia da cáustica realidade que nem os seus espelhos ousavam,

porém, tentava evitar a fáustica visão das quatro mulheres grisalhas.

Mentia sobre seus medos da miséria e da morte, e do medo que tem

dos seus próprios medos, uma última pecúnia que se paga pelo risco

de estar vivo. Não bastassem esses riscos que correm pelo seu rosto,

rastros dos seus prantos, com espanto ele sente escorrer um escarro

pela face, sem disfarces o agridem, parecem gritar, entre fobia e asco:

“risco!” e, pior, como um ridículo gregário. E a esperança que sobrara,

a parca ventura de espreitar num cais imaginário, construído de solidão

e silêncio com a madeira do tempo, a barca de Caronte para o Nada,

ele viu diluir-se num grupo, o condenaram a embarcar com a multidão.

E sequer morrer morrerá sozinho, será apenas mais um na estatística,

a alíquota da mísera merda de ser outro número na manada da Morte.


Lúcio Autran


Do livro A DEMÊNCIA DO TEMPO - Poesia para não enlouquecer ou manual de sobrevivência- um diário poético da quarentena sob o signo de um Poder demente - em andamento


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Do Fragmentos do Sonho e outros ciclos menores – editora Bookess: https://www.facebook.com/FRAGMENTOS-DO-SONHO-e-Outros-Ciclos-Menonres-1399603683592526/

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