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Marcas




Poucas pessoas gostam de reformas, pois elas geram bagunça, poeira e uma dor de cabeça e de finanças que nem todo mundo está preparado pra ter. E quando vem de forma inesperada, aí é que assusta mesmo, uma vez que nos força a tomar atitudes indesejadas em função de imprevistos que se impõem como prioridade, tal qual aquele choro de neném, cortando a madrugada quando os pais só querem dormir e descansar.

E foi numa dessas que dona Nildinha se viu acuada. Gozando de suas merecidas férias de fim de ano, ela se viu entre a cruz e a espada quando sua TV por assinatura começou a dar falhas de sinal. Trata-se de um problema antigo, porém com múltiplas repetições e nenhuma solução. O sinal caía, a equipe técnica vinha, fazia um meio reparo e pronto, funcionando similar a um band-aid. Todavia, ao contrário do band-aid, os consertos feitos não tinham uma longa duração. Passava-se algum tempo e os defeitos voltavam, e de forma piorada, com múltiplas explicações e nenhuma resolução.

Até que um dia, dona Nildinha decidiu agir com firmeza. Foi até a loja para reclamar, ameaçando entrar na justiça, ou melhor, no Procon, o lugar sagrado para quem deseja ter uma resolução rápida para problemas domésticos. A loja, talvez acuada pela nova ameaça gerada por múltiplas reclamações sem nenhuma resolução concreta, decidiu agir de forma efetiva como nunca tinha feito ao mandar uma equipe no dia seguinte à residência de dona Nildinha, com a promessa de resolver o problema de uma vez por todas.

Ao chegar na casa de dona Nildinha, a equipe logo notou que o serviço não seria fácil. Puxa dali, mexe de lá, tenta trocar o fio ali nada. Depois de muito fuçar, a equipe chegou a uma conclusão que deixou dona Nildinha de olhos arregalados e cabelo em pé: era preciso fazer um buraco no teto. Seu olhar bastante consternado, era representado por uma cara sisuda e os dedos que balançavam em sinal negativo: não. Felizmente, Alfredo, seu companheiro, estava por perto e contornou a situação, liberando o serviço, custe o que custasse.

Quatro horas depois e três buracos no teto de brinde, os reparos estavam, enfim feitos. Dona Nildinha, agora mais resignada, estava contente por finalmente ver o reparo feito em sua residência, depois de múltiplas reclamações e estresse. Seu compromisso agora era saber de suas novelas, do jornal da noite e das vacinas que nunca chegam para solucionar o mal do povo. Isso, claro, desde que não olhasse para o teto e visse aqueles buracos e cogitasse, mesmo que por uns segundos, se aquelas marcas eram realmente necessárias...


Miguel Barros

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