Hoje em dia a tecnologia está presente em tudo que fazemos, desde as pequenas coisas, como fazer uma ligação, até a produção de aplicativos e jogos eletrônicos. Os mais novos, como crianças e adolescentes, fazem maior usufruto desses produtos, enquanto as pessoas mais velhas mostram maiores dificuldades para se acostumar com o uso dessas novas ferramentas e as mudanças que proporcionam no seu cotidiano. Mas como isso interferiu nas nossas relações interpessoais?
A virada do século XX para o século XXI foi também a era em que as telecomunicações evoluíram em larga escala. Celulares passaram a ser um item comum, evoluindo ao ponto de se tornarem computadores ambulantes, capazes de fotografar, editar documentos, acessar a internet e, claro, ligar. Atualmente, crianças na mais tenra idade, cinco, seis anos, já possuem um aparelho celular. Em algumas famílias, o tempo de tela chega a substituir o tempo de convivência com os pais, sobrecarregados pelos próprios trabalhos, sem conseguir dar atenção aos próprios filhos.
Do outro lado da moeda, encontra-se a população mais velha, encaixada no que é definido como a melhor idade, na casa dos seus 60 anos pra cima. Essas pessoas têm um relacionamento meio “complicado” com as novas tecnologias. Se por um lado há aqueles que são dispostos, ainda atuantes no mercado de trabalho, cuja disposição para aprender parece cada vez maior, outros já possuem uma maior dificuldade em dar conta dessas novas tecnologias, como o uso de aplicativos bancários. Seja pela falta de conhecimento, por problemas de memória ou uma dificuldade em aprender, o fracasso na apreensão dessas tecnologias acaba gerando uma frustração. Como resultado disso vem a sensação de tristeza e incapacidade, inibindo-os até mesmo de pedir ajuda, levando-os ao isolamento como uma forma de causar “menos problemas”.
Tais dificuldades ressaltam, justamente, a importância da inclusão da população idosa no uso das tecnologias, especialmente no Brasil, ao se considerar os dados do último censo, cuja estimativa aponta para três milhões de idosos em 2020[1]. Desse modo, é preciso pensar em modelos articulados, tanto de ensino com métodos que contemplem a forma como os idosos apreendem o mundo, como de inserção na sociedade, ou seja, pensar essas pessoas nos espaços em que circulam e estão inseridos.
No que remete ao formato de ensino, Campos e Silva D’Alencar (2005) trazem reflexões interessantes ao apontar a importância de compreender as mudanças naturais advindas do envelhecimento para elaborar um plano de ação baseado na singularidade dos sujeitos da aprendizagem, seus interesses, facilidades e dificuldades, apontando, como exemplo, a relação dos idosos com a informática, na qual, muitos idosos mostram dificuldades em manusear a máquina, compreender a linguagem utilizada pelo professor e o tempo limitado dos cursos. Nesse sentido, é interessante praticar uma escuta ativa para poder delimitar quem são essas pessoas e de que modo a aprendizagem pode contribuir para melhorar as suas vidas.
Pensando pela perspectiva da integração, observa-se o uso cada vez maior da internet por parte dos idosos, através de pesquisas e da inserção nas redes sociais. No Brasil, o número de usuários segue crescendo, já que nos últimos oito anos, mais de 4,8 milhões de internautas são da terceira idade[2]. Entre esses usos, encontra-se o uso das chamadas de vídeos como um recurso para reuniões, para que famílias com parentes distantes possam se comunicar, com diálogos entre avôs e netos, por exemplo.
Assim, é possível concluir que, na era digital, o melhor caminho para a inclusão dos idosos na apreensão de novos conhecimentos em contato com a tecnologia, permeia-se pelo direcionamento dessa tecnologia de acordo com seus interesses, suas histórias de vida, tornando-a um diferencial para o seu cotidiano. O uso da internet para fazer pesquisas, das redes sociais para partilhar o seu cotidiano, dos aplicativos para fazer pagamentos e compras, entre outras, são pertinentes para o desenvolvimento de uma vida saudável, ativa e participativa na sociedade. Além disso, ressalta-se também a importância do acolhimento familiar, do auxílio de filhos e netos nesse aprendizado, compreendendo seus potenciais e riscos, corroborando com a construção de um país melhor, uma vez que a população idosa segue crescendo, ocupando espaços e transformando a nossa cultura e a convivência diária.
Miguel Barros
[1] A vida em novo ritmo: o idoso na sociedade informatizada. (2005). [2] Eles estão cada vez mais conectados. Disponível em: <https://www.soucecap.com.br/aumento-da-terceira-idade-nas-redes-sociais/ >. Referências
CAMPOS,H. C. M.; SILVA D’ALENCAR, R. A vida em novo ritmo: idoso na sociedade informatizada. In: Memorialidades. Ilhéus (BA), Ano 2, no. 3 e 4, 2005, p. 43-53.
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