Nossa mãe cansada
À vida sovava
Com doce sorriso
Após misturá-la
Com água salgada
Que d'olhos vertia
E a fermentava
Com uma pitada
De imaginação
E depois nos punha a dormir
No porvir marinado de sonhos
E depois nos metia na vida
Com exato calor de virtude
E um dia, cozidos, partimos
aos palatos que não têm memória
e à orbe da pança inglória
que nos deu a patente de merda
e o inferno da fossa profunda.
Chegamos esgotados
Estava escuro o lume
Pesamos e fervemos
No lento caminhar
Da fila vertical
Mas um dia há de suspirar a gleba
Os vapores que evolam do fermento
Os que foram ruminados e desceram
Hão de ser a salvaguarda desta Terra
Quando o sol chegar de fato à velhice
E cantar o seu lamento de estrela
A memória do calor que ele tinha
Será fogo que sustentará a mesa.
Leandro Costa
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