Morre-se quando cala
o canto de uma criança
Que perdeu o viço
Pela bala perdida,
Por sua partida
Aos céus,
Mesmo sem asas
Morre-se quando cessa
o acalanto de pássaros que já
Não alçam voo,
Perdidos no colo das cinzas,
Que ardem no ar,
Costurando cruezas.
Morre-se quando o verde em fogo
Me queima por dentro,
E me devora em negra agonia,
E sufoca meu sopro,
Vingando as matas,
Esturricadas,
Até as bordas do meu limite.
Morre-se quando homens calam
Quando devem gritar,
Quando homens ensurdecem
Quando devem ouvir,
O grito em poesia,
A palavra em dor,
O verso em esperança.
Sandra Godinho
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